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Amélia - Parte IV




IV – Para comer, há de trabalhar
Zé Ramalho cantava e eu repetia com ele:
Minha profissão
É suja e vulgar
Quero um pagamento
Para me deitar
E junto com você
Estrangular meu riso
Dê-me seu amor
Que dele não preciso...
Foi um breve período em minha vida, tinha que comer, podia ter escolhido recolher papelão da rua, mas minha beleza me permitia ganhar mais. Perdi a conta de quantos homens apaixonados ofereceram para tirar-me dessa vida, mas a verdade é que eu não estava nem um pouco interessada.
Em uma sexta feira, uma garota havia sido encontrada morta no carro de seu ex-namorado, o principal suspeito. Segundo a família o rapaz não se conformava com o fim do relacionamento. Acontece quase sempre, isso já é normal de se ver nos noticiários. Mais uma mulher vítima do amor.
Queria eu Deus, se é que você existe, entender o que se passa com esses homens que tem essa paixão, que os leva a tentar de todos os modos possuir seu objeto de desejo, mesmo que pra isso tenha que perde-lo depois.
Não podia. Então vesti meu uniforme, o mais curto possível e sai para mais uma longa noite de árduo trabalho. Não tinha vocação para o que fazia mas o fazia mesmo assim.

Passei pelas mãos de tantos homens que perdi a conta, era autônoma, não queria ninguém regulando meu dinheiro, tudo que ganhasse seria meu. Essa vida me forneceu uma situação bem confortável por algum tempo, mesmo assim minha alma não foi salva.  Tantas mãos me tocaram sem eu sentir, tantos me amaram sem nenhum amor. Eu estava morta. Fui assassinada, sem nem sequer terem a decência de terminar o serviço

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