III - Como cai um anjo
Lembro-me perfeitamente dessa data, 30 de maio de 2003, eu completava meus vinte anos, Marcelo me ofereceu uma grande festa. A maior que aquela cidade já vira, dizia ele. Foi uma grande festa, até certo ponto. Tudo começou perfeitamente bem, pessoas legais, boa comida, lugar agradável, tudo muito bem cuidado até que um amigo de Marcelo chegou à festa, desconheço seu nome, pois meu contato com ele foi apenas de dois minutos. Ah o amor a primeira vista, sabe? Seus olhos se encontram, os dois sorriem, ambos sabem que querem um ao outro. Marcelo percebeu nosso flerte pelo meu olhar, fechou a cara e me puxou pelo braço:
-Venha comigo!
Foi a primeira vez que o vi daquele jeito, seus olhos tinham ódio, um ódio muito forte, apertava meu braço tão forte que deixou um hematoma como conseqüência, me levou até o banheiro e trancou a porta. Deixei-me dirigir a palavra a ele:
- Você está me assustando Marcelo.
- Percebo seu olhar de presa assustada, isso me deixa tão mais excitado.
- O que você quer dizer?
- Você acha que mora na minha casa, come da minha comida e tudo é de graça? Acha que pode me desprezar?
Sua mão tocava meu rosto e soltava meu braço, já havia me tocado assim antes, mas eu fugia como dessa vez tentei, mas sua mão segurou meu queixo com toda a força que havia nele.
Forçou-me a tocar seus lábios, tentei virar meu rosto, mas foi em vão, então usei o clássico morde lábios para tentar escapar, o que já devia saber, não funcionou. Marcelo se encheu de fúria e me jogou no chão, subiu em cima de mim segurando meus braços para cima, começou beijando-me na boca, depois desceu para meu pescoço, fiquei paralisada no início, mas quando percebi que não ia parar, soltei um grito tão alto que ele se assustou, parou por um momento e olhou-me no rosto. Depois sorriu, como se soubesse que ninguém escutaria, se aproximou do meu ouvido e falou em tom leve:
- Fique calma querida, você vai gostar.
O som de minha blusa rasgando vinha junto com meu desespero, enquanto ele tirava suas calças tentei resistir, mas ele me segurou novamente, enquanto tirava de mim, meu orgulho e dignidade, tentei pensar em alguma coisa boa. A princípio lembrei-me daquela música bonita que todo mundo gosta: Eu sei que a vida devia ser bem melhor e será, mas isso não impede que eu repita, é bonita, é bonita e é bonita, viver e não ter a vergonha se ser feliz ... Não surtiu efeito, não era apropriada para o momento. Minha princesa é o bebê mais lindo que já vi! Pensei como se fosse a voz de meu pai me falando novamente, ah Fernando que falta me fazia, por que havia me deixado aos cuidados que alguém tão cruel. Sua transa já parecia estar no fim, seus gemidos agora acelerados, faziam cair lágrimas de meus olhos as quais ele beijava.
Tentei me apegar a detalhes do cômodo em que me encontrava e esquecer o que ali acontecia, uma pequena rachadura na parede onde ficavam as pias, no chão uma poça de água com marcas de sapatos de pessoas que ali passaram, enquanto me segurava nesse pensamento, Marcelo finalmente termina sua missão com um gemido profundo.
- Isso foi ótimo querida.
Ele disse me dando um leve beijo em minha bochecha, no chão uma pequena mancha de sangue, meu sangue. Minha saia encontrava-se em minha barriga e minha calcinha nos joelhos. Minha blusa rasgada ao meu lado, apenas meu sutiã permanecia no mesmo lugar. As lágrimas voltaram ao meu rosto e com raiva me deixei cometer um ato que não permitira aquilo acabar. Cheia de ódio cuspi em sua cara, já vi muitas vezes isso em filmes, demostra asco, desprezo.
- Sua puta!
Marcelo gritou, fechou seu punho me direcionando um soco e depois outro, seguidos de chutes, até perder totalmente o controle atingindo todo o meu corpo, quando parou pensou que eu estava morta, então devolveu o cuspe:
-Vadia.
Fiquei desacordada por um bom tempo, quando acordei estava tão machucada que não consegui me levantar, me espantei de estar viva, tentei me arrastar para fora e 15 minutos depois de iniciar a tentativa consegui chegar até a porta, onde se encontrava um grupo de mulheres, que como a maioria que estava em minha festa, eu não conhecia, e num último sopro de força, quase sussurrando disse:
-Socorro...
Depois disso meus olhos escureceram mais uma vez.
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