Vermelho
Eu mancho teu lençol de vinho
Tinto
Derramado com proposito
Mancho teu pescoço de vermelho
meu batom
Assim evito manchar de sangue
Vermelho vivo
Em tuas mãos, minha alma
Se esvaindo
Eu te mancho
E meu sangue a escorrer
E o vinho a pingar
Manchando teu lençol
Um comentário sobre: Lolitas!
Ao compararem as duas adaptações do famoso livro: "Lolita", uma de 1962 e outra de 1997, é comum a preferência pela segunda opção. O motivo? A "sensualidade" explícita da versão mais recente e o puritanismo da personagem de 1962.
Lolita é uma criança, seu puritanismo, como dizem os críticos homens, era para ser algo evidente e lógico não criticável.
Ao contrário da maioria, o filme de 1962 me agrada mais justamente pela inocência da personagem, passando a essência do que é a história do livro, uma criança em situação vulnerável a mercê de um padrasto obcecado, que vê sensualidade até mesmo em uma brincadeira de bambolê. Ao contrário do segundo filme que tenta culpabilizar a vitima, apesar de todas as atitudes de Lolita no filme de 97 serem infantis - como as respostas mal educadas à mãe - o filme mostra Lolita como uma mulher que seduz, provoca e ataca, e faz tudo isso para manipular e conseguir o que quer e o pobrezinho do padrasto não é capaz de resistir, afinal ele é um homem.
Lolita, vale sempre lembrar, não é uma história de amor mas sim de um homem obcecado por uma menina de 12 anos, tentando nos convencer de que é apenas um homem apaixonado. Pois, ora, o narrador é o próprio Humbert Humbert, a história é contada de seu ponto de vista e o assediador sempre verá a vítima como uma sedutora. Lolita não é a única prejudicada, sua mãe também se torna uma vítima nas mãos de Humbert que aceita se casar com a mulher com o intuito de ficar perto da filha (você deve ter visto algo parecido por aí, não? E como em Lolita a filha é intitulada como "vagabunda" enquanto muitos se rendem ao charme do molestador). Uma criança, mesmo que em sua cabeça esteja apaixonada ainda assim é uma criança.
Conto - Em nome de Deus
Em
nome de Deus
Chocados ficamos ao saber
do que são capazes as pessoas por ambição. É o caso de nossos pequenos Mark e
John, o primeiro com dezenove anos e o segundo com dezesseis. Ambos
descendentes de uma longa geração que vivera na pequena cidade dos EUA. Suas
famílias eram amigas de longa data, não fora diferente com os garotos que não
se desgrudavam um minuto, até surgiram boatos, mas nada foi a frente.
Mark era um garoto muito
ambicioso, sonhava com riquezas, poder, sucesso, mas isso daria muito trabalho
pelo jeito convencional, trabalho do qual queria ser poupado. John, garoto
magrelo e de cabelos finos seguia como fiel escudeiro de seu amigo onde fosse,
quando Mark escolheu um jeito para conseguir o que queria, arrastou o garoto
junto.
Caverna sagrada, era como
chamavam os meninos o lugar de seus rituais, não era bem uma caverna, mais
parecia um buraco entre pedras no meio da floresta, mas não acharam nome
melhor, foi esse mesmo:
- Trouxe tudo? – indagou
Mark.
- Claro, está tudo aqui.
– John aponta para a sacola.
- Ótimo, acenda as velas.
John acata o pedido
acendendo as velas e as posicionando no devido lugar enquanto Mark preparava o
altar, na sacola pequenos barulhos podiam ser ouvidos, quando tudo estava
pronto John por um momento hesita:
- Mark, eu não sei se
isso é certo.
- Deixa de ser medroso
John, é só um cachorrinho. Vamos me dê ele. E o punhal.
O garoto então, abre a
sacola, retirando o pequeno filhote segurando em seus braços, entrega-o a Mark
junto com o punhal que compraram em uma lojinha na beira da estrada. Os dois
juntos começam a declamar palavras de uma “oração”, dizendo renunciar a Deus e
se entregar a Lúcifer. E então em um único gesto, Mark golpeia o filhote no
peito, deixando seu sangue escorrer por todo o altar que havia preparado.
- Uma nova vida –
declamava Mark.
John apenas sorria com as
promessas de seu amigo, estava claro como cristal, que ele seria um servo
abdicado, pronto pra obedecer a seu mestre. Quando os garotos deixam a caverna,
sentem uma felicidade inimaginável, sem perceber que olhos os observavam. Olhos
curiosos para descobrir o que havia de errado com dois garotos aparentemente
normais.
Os passos curiosos,
avançavam para a caverna lentamente, na tranquilidade que encontraria o que
procurava, e não enganava-se.
Na pequena caverna de
pouco mais de três metros e meio, havia um altar com velas já apagadas, no chão
desenhos e escritas, ambos estranhos e difíceis de interpretar, mas o que mais
espantou a aqueles olhos curiosos era o sangue formando um desenho macabro. Com
os olhos saltados afasta-se dali, mas tão logo passado seu espanto, brotava-lhe
um sorriso no canto da boca e um pensamento infame na cabeça. Seria a desculpa
perfeita, para o peso de sua consciência.
Era dezembro, e o inverno
aconchegava o coração da pequena população de Romaria¹, como de costume no
domingo, quase toda a população, muito ligada a religião, frequentava a única
igreja da região. Naquele domingo Mark e John pareciam um pouco mais
incomodados do que o normal. Odiavam estar naquele lugar, principalmente Mark, que
não conseguia compreender todas aquelas pessoas falando besteira. No final da
missa todos se encontravam na porta da Igreja para colocar os assuntos em dia. Rutty Miller, mãe de Mark, era uma senhora
muito religiosa, sempre procurava Padre Joseph para bajular o jovem reverendo,
que para ela era mais que um padre:
- Padre Joseph, um belo
sermão hoje, como de costume. – exclamou Rutty.
- Fico muito agradecido,
Rutty, como sempre cheia de simpatia – respondeu o reverendo – preparada para o
novo ano?
- Não muito, 1967, dizem
que ano ímpar traz azar.
- Para Deus, não existe
azar. Senhora Rutty, me permite um comentário inconveniente? – pergunta.
- Claro padre.
- Noto seu filho, Mark,
um tanto desconfortável. Algum problema com ele? – indaga curioso.
- Creio que não padre, sabe como são os jovens,
ainda mais nesse modernismo doido, Mark como todo jovem queria estar em outro
lugar, deveras.
- Por suposto. Mas nunca
é demais investigar o bem estar de meu rebanho, não é mesmo?
- Corretíssimo, se me
permite tenho que preparar o almoço, hoje a família de John Smith almoça
conosco.
- Um ótimo garoto, John,
não acha?
- Excelente. Bom, até
mais. A benção.
- Até mais ver dona Ruty.
Que o senhor a acompanhe.
- Amém.
As comemorações de
passagem de ano das famílias Miller e Smith, fora a mesma por muitos anos, uma
exígua reunião que começava perto das onze e acabava antes da uma. Apenas um
banquete, conversação e alguma risada contida, nada de uma festança exagerada.
Não fora diferente para esperar 1967. Como todo ano a família Smith volta para
casa a uma da manhã, e na casa dos Miller, Ruty coloca os filhos para dormir e
em seguida se deita com o marido, com quem apenas mantem a conveniência. Foi
uma comemoração normal, mas no primeiro despontar do sol naquele ano, é que
houve a mudança naquela acomodada cidade.
Todas as casas abrangiam
a região da pequena igreja foram invadidas por um grito estridente e longo, de
uma criança ao que tudo indicava. Sem nenhuma hesitação, a vizinhança inteira
pôs-se para fora, dando falta apenas de Padre Joseph. O pequeno garoto, parado
em frente à Igreja, continuava com seus gritos agudos e sua bola na mão. Quando
a população se aproximou, ficaram aterrorizados com a imagem que viram.
Uma gigante e bem feita
cruz de madeira fincada em um buraco feito no chão, a pessoa que fez isso deve
ter tido muito trabalho. Mas o espanto não era causado pela cruz. Mas sim pelo
corpo amarrado nela. Uma moça, muito jovem, sem roupa nenhuma, em seu peito até
a barriga uma costura que lembrava uma cruz. O que mais horrorizava aquela
gente, eram os órgãos da garota enfileirados no chão, do menor para o maior:
- O que está se passando?
– John aproxima-se de Mark.
- Parece que tem uma moça
morta na frente da igreja. –responde Mark.
John e sua família
aproximam-se da cruz e deparam-se com a jovem sem vida, Judy, mãe de John, cai
de joelhos logo botando pra fora todo o sofrimento, sendo amparada por sua
velha e boa amiga Ruty.
- Minha irmã. – John diz
confuso.
Então repara algo que
ninguém ainda tinha visto. Um bilhete escrito com sangue, provavelmente da
vítima: “Primeira cobrança.”
O temor em seu rosto
podia ser observado de longe, era normal, afinal sua irmã estava morta, mas não
para Mark:
- O que houve John? –
pergunta.
- Olha esse bilhete. – o
garoto sussurra.
Mark recolhe do chão o
pequeno papel do chão e rapidamente passa os olhos por cima, então se afasta
sendo seguido por seu fiel amigo:
- Penso que isso pode ter
sido pelo que fizemos.
- Deixe de ser tolo, é
claro que é uma coincidência. Isso é obra de algum sádico desses que gostam de
menininhas.
John abaixa os olhos
tristes, sem encontrar nenhuma resposta.
- Olha John, não pense
mais nisso, tudo bem? Fique com sua mãe, que ela precisa de você agora.
O garoto então faz um
sinal com a cabeça concordando com o amigo, e volta para perto da sua mãe,
tentando a abraçar, mas a mulher, de tão abalada, apenas grita e não quer o
consolo de ninguém.
Fora um belo cortejo,
pessoas cheias de emoção. Os dias que o sucederam passaram normais. John não
conseguiu acatar as ordens de seu amigo e não tirava as palavras do bilhete do
pensamento. E não tardou para o novo ataque acontecer.
A cena se repetia como um
déjá vu, o mesmo cenário, os mesmos curiosos só a vítima mudara, Seu Harry,
devoto marido de Ruty, excelentíssimo pai de Mark, pendurado na nova cruz
defronte à igreja. Era um tanto gordo, o assassino deveras seria forte. Dona
Ruty, pobrezinha, só podia abaixar a cabeça e chorar. Tinha três filhos pra
criar, como faria isso sozinha?
John ao se aproximar do
local, procurando alguma pista, encontra um novo bilhete que novamente tinha
passado despercebido. “Segunda alma,
paga.” Seus olhos arregalados, denunciavam o pavor que a nova mensagem lhe
causara. Com as pupilas dilatadas e o bilhete em suas mãos vai ao encontro de
seu amigo:
- Mark, outro bilhete. –
John diz entregando-lhe o bilhete.
- Deixe de bobagem John,
isso é só algum doido solto por aí.
- Mas, Mark ...
- Pare de me perturbar
com suas fantasias. – Mark responde virando as costas.
John resolve então
concordar com o amigo, e põe na cabeça que tudo não passava de uma
coincidência, deveras era um louco que nem sabia o que estava dizendo direito.
As investigações já
haviam começado e tudo apontava para Joseph como culpado, assim pensava o
investigador:
- Padre, podemos falar
uns minutos? – indaga entrando no galpão.
- Claro meu filho. Sobre
o que se trata?
- Sobre os assassinatos
recentemente ocorridos.
- Oh, em que posso ser
útil?
- Bom, eles foram em frente
a sua Igreja, não viu nada suspeito?
- Não senhor. Acredito
que a morte tenha sido em outro lugar, já que se fosse ali, qualquer um teria
escutado.
- O Senhor faz móveis de
madeira? – pergunta avistando-as no local.
- Não para comércio, dou
aulas de marcenaria aos garotos da cidade.
- Bom, vou deixa-lo
trabalhar, se souber de algo, me avise.
O investigador saiu de lá
com uma única certeza, Padre Joseph era o assassino, mas uma dúvida ainda
pairava sobre ele, por quê?
O que o investigador e
nem qualquer outra pessoa, que não fosse o próprio assassino, podia esperar,
era que na manhã seguinte, a cidade amanheceria sobre a sombra de outra morte.
A vítima desta vez, era o homem que conhecia tão bem o lugar onde os corpos
eram expostos e até então o principal suspeito, Padre Joseph
John logo saiu a procurar
o que estaria escrito no último bilhete, e quando o encontrou, novamente foi
mostra-lo a seu amigo, mas dessa vez muito mais surpreso. Mark que sempre achou
que tudo não passava de bobagem do fiel companheiro, desta vez não pode evitar
o medo. “Todas as almas serão cobradas,
Mark”
Mark não disse nada,
apenas começou a caminhar em direção a sua casa, seguido do amigo. Sentaram-se
no sofá ainda temerosos:
- Mas por que o padre? –
perguntou Mark.
- Talvez ele tenha
descoberto o real assassino. Ou é um daqueles que querem provar que a polícia
está errada, já que desconfiavam de Joseph.
- Tem razão. Agora
devemos ficar precavidos. Vá para sua casa e fique atento a tudo que se passa.
John concordou com a
cabeça e virou-se em direção a porta, enquanto Mark deitava-se no sofá,
respirando ofegante, ficou assim por alguns minutos, até perder os sentidos.
Acordou sentindo uma dor enorme em sua cabeça, olhou a sua volta e não estava
em casa, forçou a vista até conseguir se dar conta, estava na caverna, só
queria dizer uma coisa: ele era o próximo.
Tentou investigar, mas
tudo estava escuro, apenas conseguia ver as chamas de uma vela acesa dentro da
caverna, mas não havia qualquer sinal de que estava acompanhado, então arrastou-se
pelo chão, fazendo o máximo para não emitir qualquer som e quando se viu fora
do lugar de abate pôs-se de pé e correu até chegar em frente à igreja
encontrando sua beata mãe ao pé da enorme cruz de madeira:
- Mãe, o que faz aí? –
perguntou surpreso.
Ruty, se aproximou do
garoto, afagando seus cabelos e o envolvendo com o braço esquerdo, com o
direito retirou o punhal que estava escondido no cós da saia, fazendo o garoto
arregalar os olhos e tentar se soltar, mas a velha era gorda e forte e o prendeu
com apenas um braço:
- Me desculpe meu filho,
mas é necessário de que nenhum demônio permaneça sobre a terra. – disse em
seguida rasgando o peito do garoto que começara a gritar, mas caiu desfalecido
no chão.
Em sua casa, John ao
ouvir um barulho, acorda assustado, coloca vagarosamente os pés no chão frio de
madeira, e começa a andar em direção ao quarto dos pais, verificando se tudo
estava bem:
- Mãe. – chama
- Que foi John. –
responde com a voz de quem estava chorando.
- Está tudo bem? Parece
que ouvi um grito.
- Não ouvi nada. –
respondeu cobrindo a cabeça.
Não satisfeito com a
resposta o menino magrelo se dirige até a porta colocando nos pés o chinelo que
ali se encontrava, caminhou até a rua inconscientemente se dirigindo até a
igreja, tamanho foi o susto ao encontrar o amigo caído no chão banhado em
sangre, abriu um berreiro que desta vez acordou a vizinhança que logo correu
pra rua a ver de que se tratava. Encontraram o jovem Mark em posição diferente
dos outros corpos, sua barriga jorrava sangue, mas nenhum órgão havia sido
retirado, e ele estava ao pé da cruz em vez de amarrada nela. A cidade fitava-o
com horror até ter sua atenção desviada para cima de uma árvore na qual ouviram
a velha Ruty dizer a plenos pulmões:
- Foi tudo por você,
Senhor!
Depois meteu o punhal no
próprio peito se levando despencar da árvore e cair agonizando no chão, fazendo
toda aquela gente estremece, uns levando a mão na boca, outros se enjoando.
Não havia dúvida de que
Ruty teria sido culpada pelas mortes ocorridas e tão pouco que havia feito isso
por uma mente fanática e já sem a lucidez necessária. Alguns lamentavam o fato
da senhora ter tomado um rumo tão triste, outros diziam que era uma louca que
só merecia mesmo a morte. Mas sem dúvida a cidade jamais esqueceu o fato,
principalmente John que depois do acontecido raramente tornou a botar os pés
para fora de casa a não ser nas visitas fiéis a igreja.
Poesia - Vinicius de Moraes
Elegia Desesperada
O Desespero da Piedade
Meu Senhor, tende piedade dos que andam de bonde
E sonham no longo percurso com automóveis, apartamentos...
Mas tende piedade também dos que andam de automóvel
Quantos enfrentam a cidade movediça de sonâmbulos, na direção.
Tende piedade das pequenas famílias suburbanas
E em particular dos adolescentes que se embebedam de domingos
Mas tende mais piedade ainda de dois elegantes que passam
E sem saber inventam a doutrina do pão e da guilhotina
Tende muita piedade do mocinho franzino, três cruzes, poeta
Que só tem de seu as costeletas e a namorada pequenina
Mas tende mais piedade ainda do impávido forte colosso do esporte
E que se encaminha lutando, remando, nadando para a morte.
Tende imensa piedade dos músicos de cafés e de casas de chá
Que são virtuoses da própria tristeza e solidão
Mas tende piedade também dos que buscam o silêncio
E súbito se abate sobre eles uma ária da Tosca.
Não esqueçais também em vossa piedade os pobres que enriqueceram
E para quem o suicídio ainda é a mais doce solução
Mas tende realmente piedade dos ricos que empobreceram
E tornam-se heróicos e à santa pobreza dão um ar de grandeza.
Tende infinita piedade dos vendedores de passarinhos
Quem em suas alminhas claras deixam a lágrima e a incompreensão
E tende piedade também, menor embora, dos vendedores de balcão
Que amam as freguesas e saem de noite, quem sabe onde vão...
Tende piedade dos barbeiros em geral, e dos cabeleireiros
Que se efeminam por profissão mas são humildes nas suas carícias
Mas tende maior piedade ainda dos que cortam o cabelo:
Que espera, que angústia, que indigno, meu Deus!
Tende piedade dos sapateiros e caixeiros de sapataria
Quem lembram madalenas arrependidas pedindo piedade pelos sapatos
Mas lembrai-vos também dos que se calçam de novo
Nada pior que um sapato apertado, Senhor Deus.
Tende piedade dos homens úteis como os dentistas
Que sofrem de utilidade e vivem para fazer sofrer
Mas tente mais piedade dos veterinários e práticos de farmácia
Que muito eles gostariam de ser médicos, Senhor.
Tende piedade dos homens públicos e em particular dos políticos
Pela sua fala fácil, olhar brilhante e segurança dos gestos de mão
Mas tende mais piedade ainda dos seus criados, próximos e parentes
Fazei, Senhor, com que deles não saiam políticos também.
E no longo capítulo das mulheres, Senhor, tenha piedade das mulheres
Castigai minha alma, mas tende piedade das mulheres
Enlouquecei meu espírito, mas tende piedade das mulheres
Ulcerai minha carne, mas tende piedade das mulheres!
Tende piedade da moça feia que serve na vida
De casa, comida e roupa lavada da moça bonita
Mas tende mais piedade ainda da moça bonita
Que o homem molesta — que o homem não presta, não presta, meu Deus!
Tende piedade das moças pequenas das ruas transversais
Que de apoio na vida só têm Santa Janela da Consolação
E sonham exaltadas nos quartos humildes
Os olhos perdidos e o seio na mão.
Tende piedade da mulher no primeiro coito
Onde se cria a primeira alegria da Criação
E onde se consuma a tragédia dos anjos
E onde a morte encontra a vida em desintegração.
Tende piedade da mulher no instante do parto
Onde ela é como a água explodindo em convulsão
Onde ela é como a terra vomitando cólera
Onde ela é como a lua parindo desilusão.
Tende piedade das mulheres chamadas desquitadas
Porque nelas se refaz misteriosamente a virgindade
Mas tende piedade também das mulheres casadas
Que se sacrificam e se simplificam a troco de nada.
Tende piedade, Senhor, das mulheres chamadas vagabundas
Que são desgraçadas e são exploradas e são infecundas
Mas que vendem barato muito instante de esquecimento
E em paga o homem mata com a navalha, com o fogo, com o veneno.
Tende piedade, Senhor, das primeiras namoradas
De corpo hermético e coração patético
Que saem à rua felizes mas que sempre entram desgraçadas
Que se crêem vestidas mas que em verdade vivem nuas.
Tende piedade, Senhor, de todas as mulheres
Que ninguém mais merece tanto amor e amizade
Que ninguém mais deseja tanto poesia e sinceridade
Que ninguém mais precisa tanto alegria e serenidade.
Tende infinita piedade delas, Senhor, que são puras
Que são crianças e são trágicas e são belas
Que caminham ao sopro dos ventos e que pecam
E que têm a única emoção da vida nelas.
Tende piedade delas, Senhor, que uma me disse
Ter piedade de si mesma e da sua louca mocidade
E outra, à simples emoção do amor piedoso
Delirava e se desfazia em gozos de amor de carne.
Tende piedade delas, Senhor, que dentro delas
A vida fere mais fundo e mais fecundo
E o sexo está nelas, e o mundo está nelas
E a loucura reside nesse mundo.
Tende piedade, Senhor, das santas mulheres
Dos meninos velhos, dos homens humilhados — sede enfim
Piedoso com todos, que tudo merece piedade
E se piedade vos sobrar, Senhor, tende piedade de mim!
A cor dos olhos teus de Andrea Lopes
Título: A cor dos olhos teus
Autora: Andrea Lopes
Editora: KBR Editora Digital
Páginas: 224
O livro é um romance de leitura leve com um toque erótico. Tenho certeza que a maioria das pessoas aprecia erotismo na literatura (embora alguns escondam isso) e não há vergonha nisso, o sexo, o tesão são coisas naturais do ser humano. Mas se você acha que a autora só explorou o lado erótico da história, está enganado. O livro não é apenas sexo, é amor, amadurecimento e muitas outras coisas. Mas vamos tentar resumir a história:
Dividida em três partes, a primeira nos traz Daniele de 18 anos, uma menina decidida, engajada e diria até sonhadora, defensora daqueles que não tem com quem contar. Entre colégio, estudos para vestibular, namorado, e seu trabalho no blog, o tempo para descanso praticamente não existe, mas ela finalmente conseguiu tirar férias de sua rotina cansativa, e vai com toda a família para um chalé na praia, para o merecido descanso. Logo no primeiro dia ela sai para uma caminhada e acaba desmaiando e é quando conhece Dr. Alan, um médico bonitão, que resolveu se afastar de casa para evitar a pressão da família para que faça uma especialização. A atração entre os dois é imediata e nos três dias que se passa ele se aproxima da família dela e os dois iniciam um romance que a princípio pensaram que seria apenas de sexo, mas acabam se apaixonando, apesar de os dois estarem comprometidos. Desentendimentos e mal entendidos acontecem e eles acabam se separando.
Na segunda parte do livro, Daniele agora é uma mulher bem sucedida, fundadora de uma ONG e sócia em uma empresa de Marketing em redes sociais. Alan não está nada atrás, agora especializado é o mais jovem médico vencedor de um Nobel. Agora de férias na Espanha, Daniele acaba encontrando Alan que está no mesmo hotel que ela está hospedada, em uma convenção de médicos. Logo que se encontram a frieza e hostilidade de Daniele faz com que Alan decida não se aproximar, mas a paixão renasce e ele decide que não a deixará partir dessa vez, os dois acabam se entendendo e passando outra férias juntas, mas as coisas novamente não saem como o esperado e eles se separam mais uma vez.
A terceira parte do livro nos explica o que ocorreu depois da última separação e nos traz o tão esperado final feliz.
A cor dos olhos teus é um livro descontraído e com um toque de comédia, como as cinco mil calorias que Daniele diz ser Dr Alan, e seu subconsciente carinhosamente chamado de sub (confesso que esse ás vezes me irritou). A leitura flui muito bem, eu o li em dois dias (apenas porque as três da manhã estava morrendo de sono). Eu esperava que Alan fosse muito diferente e fiquei muito feliz ao descobrir que ele não era o esteriótipo de cafajeste que a maioria dos romances trazem. Para encerrar, digo que recomendo esse livro pra quem gosta do gênero e parabenizar a autora pelo trabalho e também pelo capricho com toda a divulgação e atenção. Agradeço de coração a oportunidade de conhecer a obra e falar sobre ela.
Sobre a autora:
Na segunda parte do livro, Daniele agora é uma mulher bem sucedida, fundadora de uma ONG e sócia em uma empresa de Marketing em redes sociais. Alan não está nada atrás, agora especializado é o mais jovem médico vencedor de um Nobel. Agora de férias na Espanha, Daniele acaba encontrando Alan que está no mesmo hotel que ela está hospedada, em uma convenção de médicos. Logo que se encontram a frieza e hostilidade de Daniele faz com que Alan decida não se aproximar, mas a paixão renasce e ele decide que não a deixará partir dessa vez, os dois acabam se entendendo e passando outra férias juntas, mas as coisas novamente não saem como o esperado e eles se separam mais uma vez.
A terceira parte do livro nos explica o que ocorreu depois da última separação e nos traz o tão esperado final feliz.
A cor dos olhos teus é um livro descontraído e com um toque de comédia, como as cinco mil calorias que Daniele diz ser Dr Alan, e seu subconsciente carinhosamente chamado de sub (confesso que esse ás vezes me irritou). A leitura flui muito bem, eu o li em dois dias (apenas porque as três da manhã estava morrendo de sono). Eu esperava que Alan fosse muito diferente e fiquei muito feliz ao descobrir que ele não era o esteriótipo de cafajeste que a maioria dos romances trazem. Para encerrar, digo que recomendo esse livro pra quem gosta do gênero e parabenizar a autora pelo trabalho e também pelo capricho com toda a divulgação e atenção. Agradeço de coração a oportunidade de conhecer a obra e falar sobre ela.
Sobre a autora:
Andréa Lopes mora em São Paulo. É casada e mãe de dois meninos. Publicitária por formação, sempre esteve ligada às palavras, fosse por causa de seu trabalho em uma grande editora, fosse por ser uma devoradora de livros. É autora do blog Pausa4fun.com e coautora do Marketicesmil.com. Seus personagens, alguns trancados em arquivos no computador, outros voando sob autoria anônima em comunidades virtuais, pediam há muito tempo para existir. Finalmente foram atendidos.
Se você se interessou pelo livro, saiba mais no site e na página do facebook:
http://www.acordosolhosteus.com/
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Poesia - Sylvia Plath
Lady Lazarus
Tentei outra vez.
A cada dez anos
Eu tramo tudo
A cada dez anos
Eu tramo tudo
Um tipo de milagre ambulante, minha pele
Brilha como um abajur nazista,
Meu pé direito
Brilha como um abajur nazista,
Meu pé direito
Um peso de papel
Face sem feições, fino
Linho judeu.
Face sem feições, fino
Linho judeu.
Livre-me dos panos
Oh, meu inimigo.
Eu te aterrorizo?
Oh, meu inimigo.
Eu te aterrorizo?
O nariz, as covas dos olhos, os dentes postiços?
O hálito azedo
Some num só dia.
O hálito azedo
Some num só dia.
Logo logo a carne,
Que a caverna carcomeu, vai voltar
Pra casa, em mim.
Que a caverna carcomeu, vai voltar
Pra casa, em mim.
Sou uma mulher que sorri.
Não passei dos trinta.
E como um gato tenho nove vidas.
Não passei dos trinta.
E como um gato tenho nove vidas.
Esta é a Terceira.
Que besteira
Se aniquilar a cada década.
Que besteira
Se aniquilar a cada década.
Milhões de filamentos!
A platéia comendo amendoins
Se aglomera para ver
A platéia comendo amendoins
Se aglomera para ver
Desenfaixaram minhas mãos e meus pés
O grande strip-tease.
Senhoras e senhores,
O grande strip-tease.
Senhoras e senhores,
Eis minhas mãos,
Meus joelhos.
Posso ser só pele e osso,
Meus joelhos.
Posso ser só pele e osso,
Mas sou a mesma, idêntica mulher.
Na primeira vez tinha dez anos.
Foi acidente.
Na primeira vez tinha dez anos.
Foi acidente.
Na segunda tentei
Acabar com tudo e nunca mais voltar.
E rolei, fechada
Acabar com tudo e nunca mais voltar.
E rolei, fechada
Como uma concha do mar.
Tiveram de chamar e chamar
E arrancar os vermes de mim como pérolas grudentas.
Tiveram de chamar e chamar
E arrancar os vermes de mim como pérolas grudentas.
Morrer
É uma arte, como tudo o mais.
Nisso sou excepcional.
É uma arte, como tudo o mais.
Nisso sou excepcional.
Faço isso parecer infernal.
Faço isso parecer real.
Digamos que eu tenha vocação.
Faço isso parecer real.
Digamos que eu tenha vocação.
É fácil demais fazer isso na prisão.
É fácil demais fazer isso e ficar num canto.
É teatral
É fácil demais fazer isso e ficar num canto.
É teatral
Voltar em pleno dia
Ao mesmo local, à mesma cara, ao mesmo grito
Brutal e aflito:
Ao mesmo local, à mesma cara, ao mesmo grito
Brutal e aflito:
"Milagre!".
Que me deixa mal
Há um preço
Que me deixa mal
Há um preço
Para olhar minhas cicatrizes, há um preço
Para ouvir meu coração
Ele bate forte.
Para ouvir meu coração
Ele bate forte.
E há um preço, um preço muito alto
Para cada palavra ou um toque
Ou uma gota de sangue
Para cada palavra ou um toque
Ou uma gota de sangue
Ou um trapo ou uma mecha de cabelo.
E então, Herr Doktor.
E então, Herr Inimigo.
E então, Herr Doktor.
E então, Herr Inimigo.
Sou sua opus
Seu tesouro,
Seu bebê de ouro puro
Seu tesouro,
Seu bebê de ouro puro
Que se derrete num grito.
Ardo e me viro.
Não pense que subestimei sua imensa consideração.
Ardo e me viro.
Não pense que subestimei sua imensa consideração.
Cinzas, cinzas
Você remexe e atiça.
Carne, ossos, não há nada ali
Você remexe e atiça.
Carne, ossos, não há nada ali
Barra de sabão,
Anel de noivado,
Prótese de ouro.
Anel de noivado,
Prótese de ouro.
Herr Deus, Herr Lúcifer,
Cuidado
Cuidado.
Cuidado
Cuidado.
Renascida das cinzas
Subo com meus cabelos ruivos
E como homens como ar.
Subo com meus cabelos ruivos
E como homens como ar.
O morro dos ventos uivantes - Último livro que li
Titulo: O morro dos ventos uivantes - Wuthering Heights
Autora: Emily Brontë
Editora: Landmark
Páginas: 304
Edição bilíngue.
Autora: Emily Brontë
Editora: Landmark
Páginas: 304
Edição bilíngue.
Sempre fico receosa ao falar de clássicos, principalmente aqueles de que gosto. Perguntas como: será que farei jus a obra? não param de me rondar. Porém eu tinha que dizer leiam "O morro dos ventos uivantes." Se você já leu e não gostou pelo menos já passou pela experiência.
Mrs. Lockwood acaba de alugar a residência Thrushcross Grange para uma temporada no campo, logo que chega resolve fazer uma visita de cortesia à seu senhorio em o morro dos ventos uivantes, lá encontra Heathcliff, Cathy, Joseph e Hareton e é tratado com sem um mínimo de cordialidade, volta para a granja e encontra a governanta Ellen Dean, pede a ela que o acompanhe em seus dias de enfermo e conte tudo sobre aquela família. Tudo começa com Sr. Earnshaw voltando de uma longa caminhada com um garoto que encontrou abandonado por não saber de onde vem e nem seu nome e batiza-o como Heatchcliff (tanto no nome, quanto sobrenome) e logo o acolhe como seu filho predileto causando ciúmes em Hindley, o filho mais velho. Já Catherine sua outra filha com o tempo cria uma amizade muito forte com o novo irmão. Devido ao ciúmes de Hindley, Sr. Earnshaw manda o filho para um colégio interno. Depois da morte do pai, Hindley volta do colégio já casado e passa a chefe da família começa então a maltratar Heathcliff e faz dele um empregado. No começo Catherine e Hrathcliff continuam a amizade fazendo planos de vingança para o futuro, mas quando em uma de suas travessuras Catherine é obrigada a ficar na casa de seus vizinhos, os Linton, para tratar de um machucado os dois começam a se afastar. A moça volta muito diferente e mesmo ainda gostando de seu amigo passa a dedicar seu tempo a suas novas amizades Edgar e Isabela Linton. Edgar logo pede Catherine em casamento ela aceita e quando ela abre seu coração a Ellen. Heatchcliff escuta a conversa e foge, anos depois ele volta enriquecido, ninguém sabe o que fez nem onde esteve, Catherine e Edgar estão casados mas ela retoma a amizade e pretende fazer com que Edgar aceite-o também, mas Heathcliff pretende vingar-se, primeiro de Hindley deixando- os na ruína depois de Edgar aproximando-se de sua irmã Isabela e causando grande desgosto em Catherine que adoece. Logo a história muda o rumo para Cathy e Linton, a primeira filha de Edgar e Catherine, e o segundo de Isabela e Heathcliff e como sua vingança se transferirá para eles.
O romance é o único escrito por Emily e não foi bem recebido na época. Um livro tenso e sombrio que trata das falhas do caráter humano, a sede de vingança, o orgulho e egoísmo. Apesar de muitas vezes os personagens me irritarem extremamente o livro flui muito bem e é como se Ellen estivesse contando a você a história. Muitas pessoas criticam o livro por ser dramático e cheio de "mimimi" mas não podemos esquecer em que época se passa. Uma época onde pessoas se apaixonavam apenas com um olhar, casavam-se em pouco tempo e amavam profundamente. O livro parece pertencer somente a dois grupos: os que amam e os que odeiam. E eu confesso, amo-o.
O romance é o único escrito por Emily e não foi bem recebido na época. Um livro tenso e sombrio que trata das falhas do caráter humano, a sede de vingança, o orgulho e egoísmo. Apesar de muitas vezes os personagens me irritarem extremamente o livro flui muito bem e é como se Ellen estivesse contando a você a história. Muitas pessoas criticam o livro por ser dramático e cheio de "mimimi" mas não podemos esquecer em que época se passa. Uma época onde pessoas se apaixonavam apenas com um olhar, casavam-se em pouco tempo e amavam profundamente. O livro parece pertencer somente a dois grupos: os que amam e os que odeiam. E eu confesso, amo-o.
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